domingo, 18 de julho de 2010

Se alguma vez te falei


Quando eu achava que nada poderia mudar na minha vida você apareceu, se sentou do meu lado, puxou assunto. Falamos de filmes, de musicas, de comidas, de bebidas, da vida alheia. Falamos mal da menina da frente, do cabelo de fulano, da atitude de cliclano, resmungamos da aula de física, reclamamos de ter que acordar cedo, de ir dormir tarde, do trabalho de artes. Em meio a tantas pessoas nós éramos iguais.

Fomos nos afastando dos outros, e sem perceber criando nosso próprio mundo. Eu abri as portas do meu coração e te deixei entrar. Te falei da minha vida, te contei meus problemas, meus segredos, desabafei, te apresentei alguns amigos, apresentei minha mãe, desenhei minha casa em um pedaço da mesa para você saber como era, te mostrei as musicas que eu mais gostava, os filmes que eu assistia, e em pouco tempo você virou o meu segredo.

Confiei em você e te deixei tomar conta do meu mundo, você o fez bem. Te esperei aflita todas as manhãs, ouvi fixamente cada palavra que você me disse, observei cada gesto que você cometeu, te desejei toda noite. Comemos, bebemos, tomamos sorvete, passamos horas no telefone, no parque, na avenida principal, no shopping, no ônibus, no cinema, no teatro, na padaria. Nos perdemos na rua, enfrentamos sol de quase quarenta graus e frio de quase cinco, não precisávamos de muito, só da presença.

Então começaram as brigas, brigas por que eu falei algo errado, por que você insinuou algo, por que eu não fiz tal coisa, por que você se atrasou para tal lugar, prometemos nos afastar, não se falar, esquecer o amor... Mas não, isso não era possível. Nunca cumprimos.

Lembro de você com aquela camiseta branca, sempre que você usava coincidia de eu usar a minha regata de rendas, a gente sempre foi assim de sair combinando, de falar as mesmas coisas, de coçar o olho ao mesmo tempo, de escolher as mesmas coisas, a gente era muito igual e muito diferente. Sempre achei que isso de ser diferente era o que nos deixava assim tão próximos, mas nunca tive essa certeza.

Hoje as coisas mudaram, né? Cada um foi para o seu canto, com os seus deveres, suas amizades, seus amores, seus amigos. Nosso mundo foi destruído e só o que restou foram lembranças boas e uma ferida mal cicatrizada. Ainda guardo algumas palavras suas na memória, e junto com elas carrego a recordação daquele momento no ponto de ônibus, não sei se alguma vez te falei, mas aquele foi o melhor momento que passamos juntos, o melhor abraço, as melhores palavras. E naquele momento eu te amei, mais do que antes, mais do que sempre.

Mas tudo bem, o tempo passa e a gente tem que aprender a conviver com as perdas, uma hora a gente se acostuma. Ambos saímos muito feridos, nos perdoamos, mas sinto que ainda resta sequelas. Espero que um dia elas passem de vez, e quem sabe não poderemos voltar a dar as mãos como naquele dia no parque. Eu ainda te amo, não importa o que você sente a respeito, não precisa ser recíproco nem nada. Eu não preciso disso. Eu só queria você perto, nem precisava ser tão perto, só o suficiente para eu enxergar seu rosto e me lembrar do seu sorriso que eu tanto gostava.



"Errar é a única maneira de aprender ate você entrar em colapso
O resto nunca saberá o que poderia ter sido
Então não me diga algum dia
onde foi que nós erramos?"
(We'll Never Know - Lifehouse)


Um comentário:

Ju Les Blanc disse...

Esse texto é surreal de verdadeiro!!